O Cuidado Integral com o Paciente Oncológico

O Cuidado Integral com o Paciente Oncológico

O CUIDADO INTEGRAL COM O PACIENTE ONCOLÓGICO: HISTÓRICO, EVIDÊNCIAS E GUIDELINES DAS SOCIEDADES MÉDICAS

Por Renata Barreto, médica oncologista do Centro Paulista de Oncologia.

Nos primórdios da Medicina, havia apenas uma observação que evoluiu para a cirurgia: a necessidade quase instintiva de retirar o que supostamente estava causando a doença. Com o desenvolvimento das técnicas cirúrgicas, chegamos ao Século dos Cirurgiões, até que entre o fim do século XIX e o início do XX, foram descobertas as propriedades da radiação para o diagnóstico e o tratamento. Durante a II Guerra Mundial, muitos avanços tecnológicos permitiram o desenvolvimento de novas drogas para tratar o câncer, doença que leva à mortalidade desde tempos imemoriais. Desde então, evoluímos em velocidade exponencial com novos quimioterápicos, bloqueadores hormonais, tratamentos combinados, drogas-alvo e, mais recentemente, a imunoterapia.
Mas como proceder quando o tratamento para a doença de base não é o suficiente? Ou quando o tratamento é tão efetivo que uma pessoa doente com expectativa de vida de poucos meses passa a viver por anos como resultado do tratamento que realizou previamente?
Pensando nos avanços cada vez mais rápidos, necessários e expressivos no tratamento dos diversos tipos de câncer, acontece anualmente o Encontro da Associação Multinacional de Cuidados de Suporte em Câncer (MASCC), reunindo especialistas dos maiores centros de tratamento oncológico do planeta para discutir as novidades em terapias de suporte, controle de sintomas, avaliação de qualidade de vida e qualidade de cuidado de pacientes em tratamento e nos pacientes que já foram tratados e não mais apresentam evidência de doença.
O evento ocorreu em Washington DC entre 22 e 24 de junho de 2017, e promoveu workshops, sessões orais, grupos de estudo e pôsteres foram realizados, considerando especialmente a melhor avaliação clínica e prognóstica dos pacientes candidatos a tratamentos oncológicos. Além disso, foram abordados também a integração da oncologia com cuidados paliativos, a oncogeriatria com escalas de performance para pacientes idosos baseadas em comorbidades e funcionalidade, além do tratamento e acompanhamento dos sobreviventes. O próximo encontro promovido pela sociedade será realizado em 2018 na cidade de Viena.
Um dos maiores avanços na área é o tratamento adequado das náuseas e vômitos induzidos por quimioterapia. Houve inclusive o anúncio de novos medicamentos que chegarão em breve ao Brasil e os guidelines da MASCC para o tratamento de fadiga induzida por quimioterapia, que serão publicados até o final de 2017 e que indicam principalmente a atividade física orientada como fator de proteção e de tratamento.
Em relação aos cuidados paliativos, a recomendação da MASCC baseia-se nas recomendações da ASCO (Sociedade Americana de Oncologia Clínica). Neste sentido, pacientes com doença localmente avançada ou metastática devem ser encaminhados para acompanhamento conjunto com paliativista até oito semanas após o diagnóstico, independentemente do tratamento a ser instituído, para que o paciente tenha real benefício a partir da assistência proposta.
Quanto à imunoterapia, toda a atenção está voltada para alterações cutâneas, hormonais e orais, com diversos especialistas sendo envolvidos no tratamento, tais como dermatologistas, endocrinologistas e odontólogos.
Assim, refirma-se a importância do tratamento integral e multidisciplinar do paciente oncológico, com a participação de diversos profissionais, que devem estar presentes desde o diagnóstico. Essa visão de cuidado deve ser contemplada em nossa assistência como princípio de qualidade no atendimento. Sua vida. Nossa vida.